Ansiedade, o medo que nos sufoca 6t1162
Na escola pensavam que éramos irmãs – Kate e Kelly, as duas menininhas de oito anos de idade, de cabelos cacheados e olhos cor de mel. Éramos unha e carne e quando Kate não ia à escola – isso acontecia pelo menos uma vez por semana – eu sofria. Minha mãe vendo minha tristeza ligava […] 4d616h
Na escola pensavam que éramos irmãs – Kate e Kelly, as duas menininhas de oito anos de idade, de cabelos cacheados e olhos cor de mel. Éramos unha e carne e quando Kate não ia à escola – isso acontecia pelo menos uma vez por semana – eu sofria. Minha mãe vendo minha tristeza ligava para a mãe de Kate e me vinha com a resposta, a mesma de sempre: dor de barriga.

No ensino médio as dores já não eram tão frequentes, mas o sofrimento de Kate nas vésperas das provas era inável. Ficava inquieta, suas mãos suavam e tremiam; seu coração parecia querer sair pela boca e o ar lhe fugia dos pulmões; achava que não se sairia bem nos testes bimensais e que não teria um futuro próspero, como esperavam seus pais (na verdade era ela que tinha essa expectativa). Não conseguia ver os pais nem levemente resfriados, pois pensava que podia perdê-los e sofria como se já os tivesse perdido; também tinha esse mesmo sentimento em relação a mim, que sempre fui sua melhor amiga.
Num exame ginecológico de rotina, Kate ficou tão tensa, que sua ginecologista a aconselhou a procurar um psiquiatra. Seu tio, um clínico geral, já havia sugerido isso algum tempo antes. Chegou a minha vez de lhe dar a mesma sugestão. Pouco a pouco minha sugestão transformou-se em insistência, que não parou enquanto não fui atendida.
Dra. Auxiliadora, a psiquiatra, foi enfática: “o seu caso é ansiedade” e explicou que o problema tem um nome comprido: transtorno de ansiedade generalizada ou TAG. Disse-lhe que a ansiedade tem um forte componente genético, que pode ser agravado ou abrandado pelo meio em que a pessoa vive; que é um estado de ser e não de estar, por isso, desde a infância, Kate já mostrava sinais da enfermidade com as frequentes dores de barriga, que a impediam de ir às aulas.
A Dra. Auxiliadora falou, ainda, que o medo de perdas de entes queridos e seus sintomas físicos, como palpitações, sudorese, tremores e falta de ar também são comumente encontrados nesta doença.
A médica explicou a Kate que o lado ruim da história é que, como a maioria das doenças que acometem o ser humano, a ansiedade não tem cura, mas que o lado bom é que, como a quase a totalidade das enfermidades, a ansiedade tem tratamento e isso permite à pessoa ansiosa uma vida normal, podendo estudar, trabalhar, casar e ter filhos. Não há qualquer impedimento a tudo isso.
A ansiedade não tratada pode agravar-se e favorecer o aparecimento de outras patologias, como depressão, dependência de medicamentos, de álcool e de outras substâncias. Também contribui para o aparecimento de doenças físicas, como hipertensão, diabetes e outras.
O tratamento indicado deve ser integrado, ou seja, feito pelo psiquiatra e pelo psicólogo. O primeiro vai receitar os medicamentos necessários para o controle dos sintomas, que são extremamente angustiantes; o segundo vai ajudar o paciente ansioso a enfrentar as situações, que lhe parecem difíceis no dia a dia.
Os exercícios de meditação, as atividades físicas são importantes para o controle dos sintomas. A preservação do sono, uma alimentação balanceada, a diminuição do consumo de cafeína, de álcool e tabaco também são importantes.
Vale a pena saber que ansiedade tem tratamento e a pessoa ansiosa, quando tratada, em nada difere de outra que não tem este problema.
Eu e Kate fizemos faculdades diferentes, mas a nossa amizade continua a mesma. Ela é hoje uma profissional competente e muito bem sucedida, é casada e tem uma filha linda. Faz muita coisa na vida, e uma delas é o tratamento ininterrupto de sua ansiedade.